domingo, 15 de junho de 2014

Eles & Elas

Hoje escrevo para dizer de artistas que brevemente nos presentearão com seus trabalhos individuais. Tenho a boa sorte de conhecer todos pessoalmente, alimentar amizade de anos com alguns e ter caminhado junto. Com Lú, Aloisio, Lelê, Fê e Mestre já dividi o mesmo palco.

Por hora, registro o meu desejo e votos cheios de axé para ter em mãos o trabalho
dessa gente que honra a música desse Brasil logo, logo.
Falo das maravilhosas cantoras Luciana Alves e Negravat, de SP;  os cantores mineiros Fernando Bento e Álvaro Ferr; o baiano Aloisio Menezes; o alagoano Mestre Sapopemba; o compositor e meu parceiro, de Belém do Pará, Leandro Medina.

A gente merece ouvir vocês! Abaixo, um vídeo de cada.


Negravat - http://m.youtube.com/watch?v=1eRrSKp2N2Y
Luciana Alves - http://m.youtube.com/watch?v=WAho9niV5Uo
Fernando Bento - http://m.youtube.com/watch?v=qPv75U_0Ti4
Álvaro Ferr - http://m.youtube.com/watch?v=g0ZRErZcBfs
Aloisio Menezes - http://m.youtube.com/watch?v=akyYdxzhmuo
Mestre Sapopemba - http://m.youtube.com/watch?v=oQwDW0UcnxU
Leandro Medina - http://m.youtube.com/watch?v=Gj-T6be8Yo4

segunda-feira, 2 de junho de 2014

"Tejo-Tietê" delicadezas entre Brasil e Portugal

"Tejo-Tietê" é um dos CDs mais bonitos e amorosos que ouvi nos últimos meses. A parceria entre o excelente violonista Chico Saraiva com a maravilhosa cantora de Lisboa, Susana Travassos, é de arrancar lágrimas tamanha beleza. Estão a sós. Cordas, a alma de tantos de nós, águas, portos.
Trabalho feito de silêncios como a lembrança, a solidão, o mistério, a despedida ou a chegada. O violão de Chico é o próprio carvalho ecoando e a voz de Susana, nossa mais afetiva memória carregada de tanta herança. Trabalho tecido em fios de delicadeza.
Obrigada Chico e Susana, queridos!
Aqui, amigos, dois vídeos:
https://www.youtube.com/watch?v=UU4GPkpSS_U - Sei de um rio
https://www.youtube.com/watch?v=EHW8mUfQRe0 - Tamanho da tristeza

domingo, 18 de maio de 2014

Inseto raro

O primeiro show que assisti foi 'Inseto Raro', levada pelas mãos de meu irmão-escritor, Marcelino Freire.
- Fabiana, você não acredita na cantora maravilhosa que descobri. Você precisa conhecer. Vamos ao show?
Não titubiei e lá fomos para o teatro onde Titane se apresentaria em São Paulo. Falo de pelo menos uns 16 anos atrás.
O espetáculo tinha a assinatura do já consagrado diretor João das Neves e Titane se apresentava com o excelente violonista e parceiro musical Gilvan de Oliveira.
Terceiro sinal. Uma plateia de cabaré, intimista, pertinho da arena. Uma nota e Titane adentrava com toda a majestade que carrega dos pés a garganta. Sua voz fez uma catarse no meu corpo e transbordei. Ali, pela segunda vez na vida - a primeira foi Maria Bethânia num show ao vivo - tive a certeza do que eu, ainda num futuro incerto, definiria como caminho para a vida.
Titane é espécie rara. Em tudo. Na voz de soprano agudíssima, rascante, portentosa, certeira, visceral. Na intérprete que não desperdiça uma única sílaba, suspiros e pausas. Na mulher que dança rainha e cria esperanças com o seu corpo brincante. No amor e militância pela cultura popular e todos os seus descendentes que embala no coração.
Titane é de Oliveira/MG onde o Congado faz o verde do capim. De onde este 'Inseto Raro' se alimenta e voando ajuda muitos de nós a enxergar melhor. Com beleza. Amor.
Na semana seguinte a este show, lá estávamos eu e Marcelino em Campinas novamente para aplaudir e chorar. É muito grande vê-la. Derrama a gente.
Hoje, cantora, te agradeço Titane e continuo seguindo os seus passos como o bom aluno que não esquece os Mestres. Salve!
No vídeo abaixo, ela interpreta 'Tirana da Rosa' com Gilvan de Oliveira.
http://m.youtube.com/watch?v=mJHQH6jugsk

sábado, 3 de maio de 2014

Dori, Guinga e Quinteto Villa-Lobos

Há duas semanas eles me tomam o juízo. "Dori Caymmi - 70 anos", CD comemorativo em que o compositor gravou inéditas com seu parceiro e amigo Paulo Cesar Pinheiro e "Rasgando Seda" que traz a música de Guinga acompanhada de seu violão e interpretada pelo Quinteto Villa-Lobos.
Em paralelo a dias cinzas, com espetaculosos noticiários oportunistas e violentos, denúncias e corrupção de toda a sorte, promoção midiática de uma tal "música brasileira" enfraquecida pela ausência de poesia e música, propriamente dita, ouvir Dori, Guinga e seus companheiros do Quinteto Villa-Lobos é como que navegar este mesmo mar estranho, mas pelo avesso. Trazer rosa aos ventos e rememorar o que aparentemente se perdeu em nós. Nestes discos, revi "a morena do mar", por exemplo. Com ela, estava o mestre Dorival Caymmi e um tanto de mistérios e encantos da Bahia que a literatura de Jorge Amado imortalizou. A voz de Dori é chamamento, igual couro de tambor que desperta e adormece.
Em ambos os CDs tinha muita reza, violeiros, frevos, valsas, silêncios, delicadezas, boniteza. Acho que estes artistas fazem música cerzindo o Brasil. Paulo Cesar Pinheiro é poeta que carrega balaio de gente na cabeça e esperança. Sua palavra é feita de planta. Traz amor, partidas, rodopia, conta histórias de um tanto de coisa que a gente não vê, mas sente.
Guinga pra mim é Marc Chagall e junto de sua música sonho demais. Os sopros do Quinteto Villa-Lobos bailam de mãos dadas com o erudito e o popular e fazem carinho. Ao pé do ouvido.
De dentro da minha cozinha, agradeço a estes artesãos por encherem o meu coração de alegria e de sagrado.
Aqui, um programa que Dori e Paulo Cesar Pinheiro gravaram pela TV do Sesc. https://www.youtube.com/watch?v=wiJe2_vRRtI
Um vídeo de Guinga com o Quinteto Villa-Lobos
https://www.youtube.com/watch?v=eac3A6M4IV8

 Dori Caymmi

Guinga

sábado, 26 de abril de 2014

Tambor mineiro

`Pro fim do inverno´ é o CD de estreia do mineiro Cristiano Cunha e também título da canção que abre seu disco. Compositor, ator e percussionista, Cris, que conheço há pelo menos seis anos, é dessa gente que vai pra vida com poesia, risos e muita coragem. Não à toa está desbravando São Paulo. Por não caminhar sozinho, trouxe suas caixas do Congado, as gungas que calam os olhos de quem o vê dançando, negro, faceiro, altivo e ainda cantam tantos moçambiques, reisados, catiras, candombes. Coisas e gentes que ele conheceu, lugares onde pisa e pede licença. Sua escrita desfia calmamente lembranças contadas ao pé do ouvido por sua bela voz e anuncia um compositor inspirado, que não tem pressa para apurar e encontrar a palavra. As que dizem do coração. O 'inverno' do disco é um convite à 'noite velada' que mora em todos nós, um prenúncio à chegada de uma nova estação. Cris faz carnaval silencioso.
O CD tem direção musical caprichada do pianista cubano Yaniel Matos e a participação de uma geração de novos e excelentes músicos da cena belorizontina.
Belo trabalho!
Que as pedras das Gerais sejam suas gungas no mundo. Salve!

Pro fim do inverno

ah...
se esse inverno perdurar
o amor se perder
e você a ver o prato esfriar...
já não há o que fazer,
mas restam as louças, meu bem
elas são suas, meu bem

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Língua à solta

Irreverente, bem humorado, provocativo, inteligente. Assim ouço 'Palavrão - música infantil para adultos', novo trabalho do curitibano - radicado em SP - Carlos Careqa, de quem sou declaradamente fã há alguns anos.
Considero a liberdade uma condição fundamental para a criação e reconheço que, nos dias de hoje, é a que mais desafia a nós, artistas. Isso porque implica em abrirmos mão de fórmulas pré-estabelecidas (de 'sucesso'?!), modismos, padrões de toda a sorte que na maioria das vezes estão distantes daquilo que queremos dizer ou construir verdadeiramente.
Quando ouço Careqa tenho a sensação de que a liberdade artística e esse respiro poético livre e necessário, está lá.
Fui ao lançamento de 'Palavrão' em SP e, muito antes de um arsenal de balas voarem sobre a plateia encerrando o show, Careqa disparou, com sua teatralidade e bom humor, uma série de canções que falam de tabus. A descoberta do desejo e do sexo na infância, o ato de peidar, curiosidades e perguntas dos pequenos que deixam qualquer adulto de cabelo em pé. A noite foi uma diversão. Muitos risos escrachados, outros constrangidos. Tudo à solta como a poesia do Careqa.
Em tempo, o compositor concorre ao Prêmio da Música Brasileira 2014 com o seu CD anterior, 'Made in China'. Tô na torcida!!!

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Na ribeira do Ribeiro

Alexandre Ribeiro é músico raro. Pela beleza e generosidade de sua música, pelo conhecimento e respeito com ela, pelo esmero e precisão técnica. E claro que isso traduz muito de sua qualidade humana. Nasceu em São Simão, interior de São Paulo, e anda sempre bem acompanhado: nas melhores rodas-de-choro da cidade e envolvido em projetos com outros artistas bacanas.
Terça-feira (1/4), após um longo tempo sem prestigiá-lo, fui ao restaurante (delicioso) Tânger, na Vila Madalena. Lá estava ele com o seu clarone e seu clarinete acompanhado de três ótimos percussionistas: Felipe Roseno, Guilherme Kastrup e Samba Sam. Os sons partiam do Brasil e desembarcavam em portos (aparentemente) distantes. Ouvi povos árabes em meio a caatinga, tambores ancestrais em pleno caos urbano, melodias acompanhadas de muitos personagens. Ao final saí me perguntando se a viagem realmente cruzou fronteiras ou se tudo aquilo não era mesmo o Brasil, num álbum de retratos colorido.
A ousadia, o entrosamento e a liberdade do quarteto era tamanha, que nós, da platéia, fomos coadjuvantes eufóricos de todas as rotas. Agradeço ao amigo e produtor Alexandre Oliveira pelo convite. Salve Alê Ribeiro, Gui, Sam e Felipinho!
O projeto segue às terças com novidades a cada edição.
Assista ao vídeo e procure saber mais sobre Alexandre Ribeiro.
http://m.youtube.com/watch?v=RLdIBM6isig

terça-feira, 8 de abril de 2014

Ventos do Sul

Gisele de Santi é gaúcha e a conheci numa situação inesperada, na porta de casa, sem saber que estava diante de uma compositora inspirada e uma cantora de voz linda, cristalina, delicada, afinadíssima. Pra mim foi um presente! Agora me delicio com suas canções tão femininas, que dizem tanto de nós. Semana passada Gisele me encaminhou novidades para ouvir e escolher para meus futuros trabalhos. Que bom que meu coração chegou até você!
Amigos, deliciem-se!
https://soundcloud.com/giseledesanti
Foto: daniel kersys


domingo, 30 de março de 2014

Flor do Cerrado - Cris Pereira

Gosto tanto dela mesmo antes de conhecer o seu canto. Quando ainda aguardava Poema nascer. Nos conhecemos em Brasília, onde vive. Chama-se Cris Pereira. Quando ganhei e ouvi o seu CD de estreia 'Folião de Raça' tudo fez ainda mais sentido pois aquela voz serena é a mesma do sorriso largo e honesto. E isso é tão confortante!
Cris faz samba como reza. Samba manso, cristalino. Embala a gente nas 12 (das 13) faixas do CD. Música de uma verdade inabalável. Não faz cena. Ela é toda água e delicadeza como os versos que escreve com novos parceiros compositores e músicos.
'Folião de Raça', leva a bela assinatura do violonista e arranjador Lucas de Campos. Disco bonito, meu companheiro agora.
Salve querida Cris Pereira! Obrigada!

Novas trilhas

Nestes anos de ofício musical tenho conhecido artistas, construído parcerias lindas e feito amigos. Vez ou outra encontro colegas tristes e indignados com o pouquíssimo espaço que a 'Música Brasileira', herança de tantos mestres - de Pixinguinha a Tom Jobim, de Dorival Caymmi a Paulinho da Viola - vêm sofrendo com a falta de interesse de grande parte dos meios de comunicação, a falta de espaço físico para trabalhar, a má remuneração, entre outras tantas queixas. As reclamações, todas com fundamento, são muitas e refletem um tempo errante, aparentemente desesperançoso, desesperado para nós que seguimos acreditando na Música do Brasil.
Há muito esta angústia coletiva me inquieta e também aflige. Decidi medicá-la ao meu modo, de forma regular. Vezes ou outra falo em minhas postagens de alguém que conheci e passei a admirar. Decidi fazer disso uma caminhada constante e dividir com vocês, amigos, um tanto de gente boa e de música linda que tenho conhecido por aí, voltando a escrever sobre cantores, instrumentistas, compositores, arranjadores e um verdadeiro cordão de artesãos da música que acredito, gosto de ouvir e me enche de alegria e coragem para também seguir navegando e exercendo o meu ofício com dignidade. Neles, também me fortaleço e faço minha reza mais forte. Por nós. Por ela. A Música do Brasil.
Farei um diário semanal e conto com a colaboração de vocês na divulgação. Quanto mais forte soprarmos, mais e maiores seremos. Imagem de Marc Chagall.