sábado, 26 de abril de 2014

Tambor mineiro

`Pro fim do inverno´ é o CD de estreia do mineiro Cristiano Cunha e também título da canção que abre seu disco. Compositor, ator e percussionista, Cris, que conheço há pelo menos seis anos, é dessa gente que vai pra vida com poesia, risos e muita coragem. Não à toa está desbravando São Paulo. Por não caminhar sozinho, trouxe suas caixas do Congado, as gungas que calam os olhos de quem o vê dançando, negro, faceiro, altivo e ainda cantam tantos moçambiques, reisados, catiras, candombes. Coisas e gentes que ele conheceu, lugares onde pisa e pede licença. Sua escrita desfia calmamente lembranças contadas ao pé do ouvido por sua bela voz e anuncia um compositor inspirado, que não tem pressa para apurar e encontrar a palavra. As que dizem do coração. O 'inverno' do disco é um convite à 'noite velada' que mora em todos nós, um prenúncio à chegada de uma nova estação. Cris faz carnaval silencioso.
O CD tem direção musical caprichada do pianista cubano Yaniel Matos e a participação de uma geração de novos e excelentes músicos da cena belorizontina.
Belo trabalho!
Que as pedras das Gerais sejam suas gungas no mundo. Salve!

Pro fim do inverno

ah...
se esse inverno perdurar
o amor se perder
e você a ver o prato esfriar...
já não há o que fazer,
mas restam as louças, meu bem
elas são suas, meu bem

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Língua à solta

Irreverente, bem humorado, provocativo, inteligente. Assim ouço 'Palavrão - música infantil para adultos', novo trabalho do curitibano - radicado em SP - Carlos Careqa, de quem sou declaradamente fã há alguns anos.
Considero a liberdade uma condição fundamental para a criação e reconheço que, nos dias de hoje, é a que mais desafia a nós, artistas. Isso porque implica em abrirmos mão de fórmulas pré-estabelecidas (de 'sucesso'?!), modismos, padrões de toda a sorte que na maioria das vezes estão distantes daquilo que queremos dizer ou construir verdadeiramente.
Quando ouço Careqa tenho a sensação de que a liberdade artística e esse respiro poético livre e necessário, está lá.
Fui ao lançamento de 'Palavrão' em SP e, muito antes de um arsenal de balas voarem sobre a plateia encerrando o show, Careqa disparou, com sua teatralidade e bom humor, uma série de canções que falam de tabus. A descoberta do desejo e do sexo na infância, o ato de peidar, curiosidades e perguntas dos pequenos que deixam qualquer adulto de cabelo em pé. A noite foi uma diversão. Muitos risos escrachados, outros constrangidos. Tudo à solta como a poesia do Careqa.
Em tempo, o compositor concorre ao Prêmio da Música Brasileira 2014 com o seu CD anterior, 'Made in China'. Tô na torcida!!!

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Na ribeira do Ribeiro

Alexandre Ribeiro é músico raro. Pela beleza e generosidade de sua música, pelo conhecimento e respeito com ela, pelo esmero e precisão técnica. E claro que isso traduz muito de sua qualidade humana. Nasceu em São Simão, interior de São Paulo, e anda sempre bem acompanhado: nas melhores rodas-de-choro da cidade e envolvido em projetos com outros artistas bacanas.
Terça-feira (1/4), após um longo tempo sem prestigiá-lo, fui ao restaurante (delicioso) Tânger, na Vila Madalena. Lá estava ele com o seu clarone e seu clarinete acompanhado de três ótimos percussionistas: Felipe Roseno, Guilherme Kastrup e Samba Sam. Os sons partiam do Brasil e desembarcavam em portos (aparentemente) distantes. Ouvi povos árabes em meio a caatinga, tambores ancestrais em pleno caos urbano, melodias acompanhadas de muitos personagens. Ao final saí me perguntando se a viagem realmente cruzou fronteiras ou se tudo aquilo não era mesmo o Brasil, num álbum de retratos colorido.
A ousadia, o entrosamento e a liberdade do quarteto era tamanha, que nós, da platéia, fomos coadjuvantes eufóricos de todas as rotas. Agradeço ao amigo e produtor Alexandre Oliveira pelo convite. Salve Alê Ribeiro, Gui, Sam e Felipinho!
O projeto segue às terças com novidades a cada edição.
Assista ao vídeo e procure saber mais sobre Alexandre Ribeiro.
http://m.youtube.com/watch?v=RLdIBM6isig

terça-feira, 8 de abril de 2014

Ventos do Sul

Gisele de Santi é gaúcha e a conheci numa situação inesperada, na porta de casa, sem saber que estava diante de uma compositora inspirada e uma cantora de voz linda, cristalina, delicada, afinadíssima. Pra mim foi um presente! Agora me delicio com suas canções tão femininas, que dizem tanto de nós. Semana passada Gisele me encaminhou novidades para ouvir e escolher para meus futuros trabalhos. Que bom que meu coração chegou até você!
Amigos, deliciem-se!
https://soundcloud.com/giseledesanti
Foto: daniel kersys